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Passarinhos invadiram a moda umas duas primaveras atrás e continuam voltando desde então. Eles estão em estampas de roupas, artigos de papelaria, bijús, móveis e por aí vai. O objeto mais associado a eles, a (famigerada) gaiola, também está decorando vitrines e interiores de lojas em Utrecht, entre elas as filiais da H&M. Na seção de artigos para casa da V&D – uma das maiores lojas de departamento holandesa – estão à venda luminárias e outros artigos em formato de gaiola. Lindas, mas desde que usadas apenas como objeto de decoração.

Minha descoberta recente “em termos de passarinho” são os broches da artista plástica/designer/ilustradora holandesa Marloes Duyker. Ela é dona de um estúdio em Utrecht, o Naked Design, onde se dedica a fazer ilustrações com sua máquina de costura. Ela produz desenhos lindos com linha e agulha, como esses aqui:

Marloes Duyker vende os broches de passarinho através de sua loja virtual no site de artesanato Etsy, o que significa que você pode encomendar de qualquer lugar do mundo. Em Utrecht o acessório pode ser encontrado na loja da Fundação Designer Café, na Oudkerkhof 7. Os broches também estão disponíveis nas versões besouro, coelho, veado e cachorro. Eles vêm em caixinhas que, se penduradas na parede, servem de moldura para o broche enquanto você não o estiver usando. Muito mimo!

Veja mais fotos de thread illustrations (ilustrações com fio) de Marlos Duyker no Flickr da artista.

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Música Holandesa. A que eu gosto.

Difícil resumir o legado musical de um país em um post. Por isso não vou tentar fazer isso. Mas gostaria de conversar um pouquinho sobre os artistas holandeses de pop/rock/alternativo que têm espaço no meu iPod. Nessa categoria, grande parte canta em inglês, coisa bem comum por aqui. Pode até ser que você já tenha ouvido alguns deles antes e nem sabia que eram da Holanda. No meu caso, aconteceu com o Kraak & Smaak e o hit Squeeze Me. O videoclip é super legal.

Na lista dos que cantam em inglês, alguns dos meus favoritos são Alamo Race Track, Caro Emerald, Pete Philly & Perquisite, Go Back to The Zoo, De StaatGiovanca e Kensington (uma banda nova de Utrecht)

Por aqui tem até banda que canta em português. A mais legal e mais famosa tem uma brasileira no vocal, mas o resto dos integrantes é europeu (holandês, alemão, dinamarquês…). O Zuco 103 já emplacou um hit – que fez sucesso até no Brasil – e toca sempre nos festivais de verão na Holanda e em outros cantos da Europa.

A banda Sensual, que apesar do nome característico de bandas de axé ou forró tenta fazer um som meio MPB, é liderada por uma holandesa que canta em português. Não gosto, mas muitos brasileiros que conheço curtem. Holandeses também. Clique aqui e vá direto para os 2:52 para ouvir a música carro-chefe deles.

E finalmente, alguns dos artistas que mais gosto por aqui fazem música em holandês. O primeiro que descobri foi o Erik de Jong, aka Spinvis, de Nieuwegein, uma cidade encostada em Utrecht. Meses depois conheci o hip-hop do De Jeugd van Tegenwoordig (traduzindo: “A Juventude de Hoje em Dia”). O segundo álbum deles, De Machine, me agradou do começo ao fim. Também gosto do The Opposites. Minha mais recente descoberta é Roosbeef (mas não gosto de todas as músicas).

Ao que parece a Holanda também está criando uma tradição em música eletrônica. Não sou a pessoa mais recomendada para falar do gênero porque não é o tipo de som que me agrada. O que sei é que um dos DJ’s mais famosos do mundo, Tiesto, é holandês. Outro que não fica atrás é o Armin van Buuren. Ambos fazem shows regularmente no Brasil.

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Pedalando (na água) pelos canais de Utrecht

Meu coração derreteu quando vi esta foto feita pela Clarissa. O céu azul de primavera reflete nas águas do canal mais famoso de Utrecht, o Oudegracht (Velho Canal), com suas casas históricas e as antigas oficinas que datam do século X, quando a Holanda ainda era parte do Império Romano.

Nada se compara a essa época do ano. A luz começa a voltar, até mesmo as noites são mais claras. As flores começam a desabrochar, os pássaros cantam loucamente, as temperaturas são amenas. Nem quente, nem muito frio. Equilíbrio. Mágico para alguém que viveu praticamente a vida toda num lugar onde os dias são sempre quentes e as cores da paisagem nunca mudam.

O mudar das estações é fascinante. Te ajuda a lembrar que a vida é essa repetição de ciclos em combinação com aquilo que se preserva, não importa o quanto tempo passe. Como o Oudegracht. Antes de os portugueses pensarem em sair navegando por aí em busca do caminho para as Índias, antes de a história do Brasil começar a ser registrada, essas oficinas à beira da água que liga os rios Kromme Rijn e Vecht já existiam.

Se um dia você vier à Holanda, não deixe de visitar esse lugar. Você pode pegar um barco turístico que vai te levar pelos principais canais de Utrecht, como aqueles que existem em Amsterdã. Mas eu recomendo alugar o pedalinho e percorrer toda a extensão do Oudegracht e do Nieuwegracht (o Novo Canal, construído por volta de 1390).

No caso deste último, o pedalinho ou uma canoa são a única opção, creio eu, pois em alguns trechos o canal é bastante estreito. O Nieuwegracht se diferencia do Oudegracht por ser quase que exclusivamente residencial. As antigas oficinas viraram casas, algumas super fofas, com jardinzinhos cujo romantismo você só consegue apreciar em plenitude quando olha a partir da água.

É preciso ter força nas pernas (vá acompanhado) e principalmente no braço, pois o pedalinho é complicado de guiar. No ano passado, fiz o trajeto em sentido anti-horário, e, pedalando rápido, conseguimos fazer o itinerário em 1 hora  e meia. Partimos da Stadhuisbrug, onde fica o ponto de aluguel do pedalinho, em direção ao Ledig Erf. Ali viramos à esquerda na Tolsteegbrug para entrar no Tolsteegsingel.

Nessa parte a distância entre as margens é bem maior, por isso é preciso prestar atenção para não perder a pequena entrada que dá acesso ao Nieuwegracht. Ela fica escondidinha à esquerda da Abstederbrug (brug = ponte). Não se preocupe em ficar perdido. Há plaquinhas com o nome de cada uma dessas pontes colocadas ali especialmente para os navegantes.

A pequenina entrada para o Nieuwegracht passa por baixo da Servaasbrug, ponte que fica no alto da Agnietenstraat. Ali começa a melhor parte do passeio. O Nieuwegracht, diferente do Oudegracht, é silencioso. E por ser estreito, poucos são os barcos passando por ali. É tão apertado que chegamos a ficar emperrados num certo trecho porque não conseguíamos fazer o pedalinho navegar em linha reta (eu disse que é difícil guiar esse negócio). Por uns bons minutos ficamos batendo de um lado e de outro do canal.

O Nieuwegracht continua em linha reta até a Trans, quando entorta para a direita. E justamente por isso muda de nome e vira Kromme Nieuwegracht (kroom = torto). O Kromme Nieuwegracht segue em sentido anti-horário numa curva de 180º. Ao longo dele, vários prédios da Universidade de Utrecht, entre os quais o da Faculdade de Humanas.

Na altura da Keistraat o canal quebra mais uma vez para a direita e você começa a navegar pelo Drift, um outro canalzinho bem estreito. Logo à frente, do seu lado esquerdo, está a igreja Janskerk. Na praça da Igreja, a Janskerkhof, acontece todos os sábados uma grande feira de flores que você provavelmente não conseguirá ver ali de baixo. Volte ali depois, por volta das 17 horas, quando os feirantes já se preparam para voltar para casa e vendem o que sobrou a preço de banana, se você pechinchar.

Em volta dessa praça também ficam a sede de uma das maiores Fraternidades Estudantis de Utrecht, várias danceterias e cafés e os prédios da Escola Nacional de Pesquisa em Linguística e o Instituto Utrecht de Linguística. O Drift continua por alguns poucos metros até a Voorstraat. Anote esse nome para voltar lá depois. É uma ruinha estreita super interessante, com vários restaurantes de comida oriental (recomendo o vietnamita Saigon), brechós e o meu inferninho preferido de Utrecht, o Accu.

Passada a pequena ponte da Voorstraat, o canalzinho vira Plompetorengracht. Continue pedalando até o fim dele, que acaba no Weerdsingel. Lembre-se de virar à esquerda quando chegar ali. Se virar à direita, irá parar no Wittenvrouwensingel, em volta do qual está uma das vizinhanças mais caras da cidade. Logo na curva, do lado oposto ao da avenida que margeia a água, fica uma das três localidades da penitenciária de Utrecht.

Mas pelo nosso trajeto inicial, você acaba de virar à esquerda. Siga o curso da água, passando por baixo de umas três pontes, até chegar num trecho em que você precisará escolher novamente para que lado vai. Mais uma vez, escolha a esquerda. Você estará voltando para o Oudegracht, onde tudo começou.

Nesse trecho final do itinerário você poderá apreciar melhor a vista dos terraços, onde os moradores de Utrecht adoram se sentar para aproveitar um dia de sol. Clima relax total. A essa altura você estará com sede e o corpo todo dolorido, mas bastante satisfeito com as belezuras que viu pelo caminho. A viagem termina onde começou, na Stadhuisbrug.

Faça como os Utrechtsers e vá relaxar num terraço. Eu recomendo meu café favorito, que fica a dois minutos andando do local onde você alugou o pedalinho. De naam van de zaak is… Café De Zaak*. Torça para encontrar uma mesa no Café De Zaak. O lugar vive lotado. Mas se não tiver sorte, não desanime. Peça sua cerveja direto no balcão e sente-se nos degraus das casas logo ao lado do café.

Se tiver fome, atravesse a praça e compre aquelas que na minha opinião são as melhores batatas fritas de Utrecht. A lanchonete se chama Broodje Ploff e fica logo na esquina à direita. Você pode voltar com o seu lanche para o café. O De Zaak é um dos poucos onde se aceita que clientes levem a própria comida. Dica da minha amiga Malka.

Sente-se e aproveite o sol, a cerveja e as frietjes. A vista não é das minhas favoritas, mas é interessante ficar observando o movimento. Dali você pode ter a sorte de ver um casal sorridente chegar num carro de época para se casar no prédio da prefeitura que fica em frente ao café. Família, amigos e um fotógrafo estão à espera deles. Quer final mais romântico?

*Parafraseando o quadro De Naam van de Zaak, do programa Klare Taal, da Radio Nederland, que explica os nomes de cafés e restaurantes espalhados pela Holanda. Traduzindo a frase: “O nome do negócio é… Café O Negócio”
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From Utrecht

Banda holandesa, que canta em holandês. De Utrecht. Roosbeef.

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Hoje é dia de eleições na Holanda

Minha única aula de política do semestre coincidiu de cair poucos dias antes das eleições provinciais da Holanda, que estão acontecendo hoje. Essa votação elege indiretamente o Senado holandês, que tem muito menos poder se comparado ao nosso no Brasil, mas que ultimamente vem dando um pouco de dor de cabeça para o governo daqui. E é por causa disso que hoje será mais emocionante que o normal para esse tipo de pleito.

Na minha opinião, principalmente porque o resultado da contagem dos votos servirá de termômetro para indicar o grau de satisfação do eleitorado com o atual gabinete. Ou melhor dizendo, uma parte do eleitorado. Em 1970 o voto na Holanda passou de obrigação (como é no Brasil) para direito. Ou seja, você exerce se quiser. Desde então, nem todas os pleitos tem índice de comparecimento grande, em especial aqueles que usualmente são considerados menos importantes, como o de hoje. O último do tipo, em 2007, teve a participação de apenas 46,4% dos eleitores.

Fiz questão de dizer “resultado da contagem dos votos” porque o resultado de verdade ainda não é possível saber. Hoje serão escolhidos apenas os representantes das províncias. Estes, por sua vez, elegem os membros da Primeira Câmara, também chamada de Senado. E isso eles têm até o dia 23 de maio para fazer. O processo todo envolve uma série de articulações políticas que não faço a menor ideia de como funcionam.

Na aula, pedi que a professora me esclarecesse. Ele faz cara de quem está chupando limão e disse que isso é super, super, super complicado, que não compensava explicar e que eu não precisava saber (!) De fato, precisar não preciso, nem para a prova, nem para votar, porque (ainda) não tenho esse direito na Holanda. Mas quero entender essa tal “getrapte verkiezingen” (voto de escada, numa tradução bem tosca, e que quer dizer nada mais nada menos que voto indireto). Ainda farei minha pequena pesquisa sobre o assunto.

Popularidade
Por ora, o que estou mesmo curiosa para saber é justamente o resultado da contagem de votos. Ele vai indicar a popularidade dos partidos, especialmente os dois que compõem o governo – VVD e CDA – e aquele que os garante suporte, o PVV, o partido anti-islã de extrema direita. Este último ainda não tem cadeiras no Senado. Será que desta vez emplaca algumas? É essa a esperança do atual governo.

O gabinete sofre uma oposição um tanto quanto intransigente no parlamento, onde tem apenas um voto a mais na hora de aprovar leis. A imprensa tem sido bem mais crítica do que costumava ser em relação a gestões anteriores, principalmente por conta da aliança com o PVV, partido mal visto por qualquer pessoa de bom senso neste País. Para piorar, o governo é minoria também no Senado.

Ou seja, a performance dos partidos de situação no pleito de hoje determina maior ou menor governabilidade para o primeiro-ministro Mark Rutte e sua equipe. Isso porque o Senado daqui, embora não possa apresentar leis, pode vetá-las. E vetar matérias consideradas essenciais pelo governo tem sido a única coisa que a Primeira Câmara vem fazendo nos últimos meses. Uma coisa há de se admitir: a vida do premier Rutte não está sendo das mais fáceis. Ainda bem!

Outro aspecto que me deixou curiosa é se mais eleitores irão às urnas do que o normal para uma eleição provincial. Às 7h49 de hoje, quando me dirigia à plataforma do trem que vai para Leiden, me surpreendi com a fila no posto de votação instalado no saguão da Estação Central de Utrecht. Achei legal ver! Acabo de ler no site do jornal Volkskrant que o comparecimento às urnas até o momento parece ter sido maior em comparação com quatro anos atrás. Maioria dos comentários no Twitter diz que os números estão no mesmo patamar que em 2007.

Na Estação Central de Leiden o movimento era pequeno tanto na hora do rush quanto na hora do almoço, quando voltei para casa. Mas vi aqui e ali um ou outro membro de partido fazendo boca-de-urna em volta do local de votação. Pelo visto isso é permitido por aqui, com a ressalva de ser bem menos agressivo do que costumava ser no Brasil. Nada de santinhos sujando o espaço público e gente fazendo gritaria. Uma conversa conduzida com a ajuda de um panfleto explicativo é suficiente para o brando povo holandês.

Fatos e Números

– O nome do Senado holandês engana: Primeira Câmara não significa mais poder. Quem de fato legisla e fiscaliza é a Segunda Câmara, nome dado ao parlamento holandês.

– O Senado é composto por 75 membros, exatamente metade do número de assentos no Parlamento;

– Com pequenas exceções, senadores trabalham apenas um dia por semana. A função é secundária às carreiras que eles exercem fora da Primeira Câmara.

– Senadores não recebem salário, mas sim uma compensação equivalente a um quarto do salário de um membro da Segunda Câmara (€ 7.311,56 brutos por mês).  Ou seja, cerca de € 1.827 , não descontados impostos.

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Wild breien

No inverno passado, decidi que ia voltar a tricotar. Minha mãe me ensinou quando eu era criança, mas acabei me esquecendo como se faz. Fui a uma loja especializada em artigos de tricô em Utrecht. Comprei agulhas e a lã mais barata para fazer um cachecol. Procurei vídeos na internet com explicações. Um tempinho depois, até ganhei duas sacolas enormes com todo tipo de lã.

Fiquei tão empolgada que até no meu background do Twitter coloquei uma foto com uma bicicletinha coberta em tricô. Daí surgiu a ideia de fazer o mesmo com a minha própria bike. Mas colocar em prática acabou sendo mais difícil do que eu imaginava. E como demorava o resultado…

Volta e meia ainda olho para a bolsinha com agulha e novelos no canto do meu quarto. Coloquei-a propositalmente à vista para que não me esqueça de que ela precisa ser usada. Será que um dia volto a tricotar?

Daí que me aparece uma nova inspiração: Wild Breien. Esse ó nome holandês para uma nova forma de street art que virou moda em países do hemisfério norte (faz sucesso principalmente em Londres e Nova Iorque). No inverno, quando as árvores ficam peladas e todos os dias são sem cor, amantes do tricô resolvem alegrar suas cidades cobrindo plantas, postes ou bancos de praça com peças de lã colorida feitas a mão. Em Utrecht já é possível ver em alguns semáforos para bicicletas.

Wild breien em Utrecht. Foto: Dagblad De Pers

Fuçando na internet, descobri que para quem mora aqui e quer fazer parte de um grupo de tricoteiros há reuniões toda semana no restaurante Winkel van Sinkel, onde os participantes podem trocar ideias e técnicas. Os encontros são coordenados pela Stitch ‘n Bitch Nederland, que também oferece workshops.

Foto: Wildbreien.nl

Para quem mora na Holanda ou está de passagem por Amsterdã: até o dia 16 de março é possível visitar uma exposição de wild breien no Artis, um zoológico em Amsterdam Zuid. O trabalho foi organizado pela escritora infantil, ilustradora e designer Francine Oomen, que acaba de lançar um livro sobre o assunto. Também em Amsterdam Zuid, a loja/galeria Het Huis van Anna oferece um workshop de fim de semana sobre as técnicas de wild breien.

Wild Breien (Tricotar Selvagem) em holandês, Yarn Bombing (Bombardeio de Linha) ou Knit Graffiti (Grafite de tricô) em inglês. Gostei da ideia, mas me deu um certo desconforto pensar que há gente cobrindo plantas e objetos com (literalmente) roupa, enquanto tem tanta pobreza por aí. Não que precisem de suéteres e cachecóis na África, mas você entende o que quero dizer.

Por outro lado, também se gasta dinheiro com hobbies muito mais inúteis, então sei lá. Só sei que agora estou com a maior vontade de fazer um wild breien na minha bike. Mais ainda depois que vi esse trabalho da americana Theresa Honeywell.

Veja mais trabalhos de wild brein no Flickr do grupo London Guerrilla Knitting.

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Não, eu não sou turista

A única vez em que pisei num coffeeshop em Amsterdã foi para fazer uma matéria. Não faço ideia de como sejam as mulheres nas vitrines do distrito da luz vermelha, porque nunca estive lá. E embora eu ignore os clichês do turismo daqui, minhas dificuldades com a pronúncia dos ditongos da língua holandesa quase me fazem passar por turista pervertida.

Episódio 1

Em uma drogaria no centro de Utrecht, pergunto para a funcionária:

– Hebben jullie Veet? (Vocês têm Veet?)
– Nee – responde a moça, com uma cara desconfiada
– Weet u waar kan ik het vinden? (Você sabe onde posso encontrar?)
– Aannn… alleen in een coffeeshop. (Somente num coffeeshop)

Olho para ela com cara de interrogação. E num instante me dou conta do que eu realmente havia dito.

– Neeeeeeee… dat is niet wat ik bedoel. Ik zoek Veet, die… voor de haren in je benen. (Nãoooooo… não é isso que quero dizer. Eu estou procurando Veet… aquele pros pelos da perna).
– Oh! Veeeeeeeeet! Ja, die hebben wij hier. (Oh! Veet! Sim, esse nós temos aqui).

Quando perguntei se eles tinham Veet, uma cera depiladora, pronunciei o nome do produto do mesmo jeito que o fazemos no Brasil e acabei perguntando se ali, na drogaria, eles vendiam wiet /vit/, ou seja, maconha.

Episódio 2

Professor na aula de conversação pergunta:

– Paola, wat doe je met je geld? (Paola, o que você faz com seu dinheiro?)
– Ik betaal de huur… (Eu pago o aluguel…)

Antes que eu termine a frase, meus colegas me interrompem em uníssono:

– Huuuuuuuuuur – dizem, fazendo biquinho

Shit! De novo, erro de pronúncia. Adivinha o que eu disse que fazia com o meu dinheiro?

– Ik betaal de hoer. (Eu pago a prostituta)

Hoer (prostituta) se pronuncia mais ou menos como /rur/ em português. Quase do mesmo jeito que huur (aluguel), com a diferença de que para este último você tem que fazer um biquinho, o que muda levemente a pronúncia. Diferença quase inaudível para ouvidos de gente cuja língua nativa é o português.

Ainda apanho da pronúncia das vogais holandesas. O mais difícil para mim é a diferença entre “i” e “ie”. Ambos soam como uma coisa só: “i”. Mas não sou a única. Uma colega de sala da Bielorrússia conta que num jantar na casa da mãe do namorado holandês quis elogiar a comida da sogra e também cometeu uma gafe de pronúncia.

– Hmmm… Lekker vis! (Hmmm… Gostoso o peixe!)

O que ela realmente disse:

– Hmmm… Lekker vies! (Hmmm… Gostoso nojento!).

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Carta misteriosa

Dia desses a loja de departamentos holandesa Bijenkorf postou em seu Facebook uma mensagem perguntando se seus fãs/clientes costumam receber um cartão de um admirador secreto por ocasião do dia dos namorados, que aqui eles comemoram no dia 14 de fevereiro. Até então, nunca tinha ouvido falar dessa prática de mandar mensagens anônimas por aqui.

Até que hoje, me deparei com uma carta largada em cima de uma bicicleta no estacionamento de bikes da estação central de Utrecht. No envelope, a frase “Especialmente para você” estava escrita a mão dentro de um coração cor-de-rosa.

Não podia ser para mim. Primeiro, porque havia sido deixada numa bike que não era a minha. Segundo porque a letra era de mulher.

Nem por isso deixei de fazer o envelope escorregar para dentro da bolsa da minha bicicleta. Por que não? Se não fosse eu, seria outra pessoa tanto quanto curiosa a fazer a mesma coisa. E vai que o vento leva a carta?… Vai que começa a chover e o papel se desmancha e a tinta da caneta se borra toda?

Embora o envelope parecesse cuidadosamente colocado sobre a garupa da bike logo abaixo da minha, provavelmente a moça que escreveu a carta a esqueceu ali. Coitada. Comprometi-me a a checar se havia um endereço de retorno, botar um selo de verdade na carta e postá-la de volta à dona. Não sem antes ler tudinho, claro.

E para afastar qualquer sentimento de culpa, me agarrei ao fato de que no envelope não havia remetente. A carta estava endereçada apenas a “Você”. E “Você”, naquele exato momento, era eu e ninguém mais. Portanto, me convenci de que não estava cometendo nenhum crime.

Até que, preparando-me para sair dali rapidinho, notei que sobre a garupa de pelo menos outras quatro bikes – todas masculinas – havia um envelopinho idêntico ao que eu havia resgatado de ir parar no beleléu. E eu, que havia me achado a esperta, demorei para perceber que aquilo era… propaganda.

É comum você encontrar papéis e outras coisas (como capas de selim) na sua bike quando volta para buscá-la no fim do dia. São propagandas de papel higiênico a academia de ginástica. Essa me enganou por uns segundinhos porque o material foi tão bem impresso que realmente parecia uma carta escrita a mão. E dentro daquele envelope havia, de fato, uma carta que também imitava perfeitamente uma letra feminina.

A carta não era para mim, óbvio, mas para Romeu. Assinada por Julieta. Em meio a várias declarações de amor, ela pergunta onde Romeu afinal de contas foi parar. Traduzo aqui um pedaço da carta:

“Quando olho para o passado, não vejo mais em lugar algum o amor de antes. Troco o meu pijama por um babydoll sensual, passo dias na esteira, não deixo uma caloria sequer entrar pela minha garganta, gasto horas procurando o vestido ideal para te seduzir, e você não dá a mínima. (…) Parece que hoje em dia o mundo gira em torno de materialismo. E preciso admitir que me mordo de inveja de Yolanthe*, com seu cartão OuroCard, seu liquidificador novo e apartamento em Milão”.

Mas a moça jura não se importar com dinheiro e diz que ficaria por demais satisfeita com apenas uma cartinha. “Fevereiro é o mês ideal”, sugere Julieta. Na aba do envelope – que é onde as pessoas aqui escrevem número e código postal para retorno – encontro o endereço do site Brief voor je Lief (Carta para o seu Amor).

O site oferece modelos de cartas em três temas – amor, amizade e família – que você pode personalizar e pedir para enviar ao seu ente querido. Existe a opção de adicionar um presente. O serviço custa a partir de € 2,95 por carta. Você pode escolher entre quatro modelos de letra. Os presentes – bijous ou vale-cinema – custam entre € 4,95 e € 14,95. Barato e original. Do jeito que os holandeses gostam.

*Contexto: Yolanthe Sneijder Cabau é uma atriz/apresentadora que em julho de 2010 se casou com o jogador da seleção de futebol holandesa (e nascido em Utrecht) Wesley Sneijder. O casal se mudou para Milão, já que Sneijder joga pela Inter de Milão, e nos últimos meses brigou na Justiça com uma empresa de catering que os acusa de não ter pago parte da conta de sua luxuosa festa de casamento. Um ano antes, Yolanthe se envolveu num outro bafão. Ao se separar do então namorado, o cantor popular Jan Smit, foi acusada pela mãe dele de ter surrupiado alguns objetos da mansão do artista. Num programa de televisão Gerda Smit insinuou que Yolanthe tivesse levado um liquidificador, um espremedor de frutas e toalhas de rosto. O caso virou piada e um perfil falso de Yolantha foi criado no Marktplaats – o site mais popular de vendas de artigos usados na Holanda – no qual ela “colocava à venda” os produtos que supostamente desapareceram da casa de Jan Smit.
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Gente bonita. Clima de paquera (not).

A revista NL é uma das publicações da NL Unlimited, uma editora que produz revistas sobre entretenimento e lazer e as distribui gratuitamente nas seis maiores cidade da Holanda. Funciona como um guia sobre o que fazer e aonde ir. Cada uma das cidades tem sua própria edição e nome diferente: NL + o número do DDD da cidade. Assim que é NL30 para Utrecht, NL20 para Amsterdã, NL10 para Roterdã e por aí vai. Numa das edições de novembro a publicação trouxe seu raio-x anual sobre a vida noturna no País e revelou o que eu já sabia por experiência: holandeses não saem para paquerar.

Gente bonita, clima de paquera? Nee. Gente bonita pode até ser, mas a maioria dos moradores ouvidos pela NL sai à noite para… conversar. Especialmente em Utrecht. Somente 16% dos entrevistados que moram aqui responderam que paquerar é sua atividade favorita quando vão pra balada. Talvez porque praticamente metade é comprometido (48%). Mas afinal, onde eles encontraram seus namorados/parceiros, então? E onde é que paqueram?

Para ser bem sincera, nem sei se paqueram. Pelo menos não dessa maneira que estamos acostumados no Brasil. Troca de olhares, cantadas, aquela tensão rolando no ar? Nunca vi. Se rola atração, a coisa já evolui logo para uma conversa animada. Nada de joguinhos de sedução. O tal do “clima” não existe para eles.

Também é raro, por exemplo, ver gente se beijando na balada. Mesmo entre o pessoal mais novo. Apenas 39% beijam um desconhecido na noite. Dos que o fazem, 19% declararam beijar alguém do mesmo sexo. E como são poucos os que se arriscam na paquera, também são poucos os que levam um fora: só 27%.

Encontrar pessoas novas quando saem à noite – e aqui não estamos falando de paquerar – é a intenção de apenas 27% dos moradores de Utrecht que responderam a pesquisa da revista NL. De fato, vejo pouca interação entre desconhecidos. Holandeses são super abertos, mas só entre amigos.

Eles geralmente conhecem aqueles com quem vão ficar ou se relacionar em festas e reuniõezinhas em casas de amigos, na escola, no trabalho e em sites de encontros. Esses últimos, pelos quais a maioria paga por mês, são bem populares. E não existe aquela noção de que somente gente desesperada recorre à internet para encontrar alguém.

Quando o assunto é com que frequência eles têm uma one-night-stand, o número deixa até o brasileiro mais santo parecer o maior pegador. 76% responderam que quase nunca ou nunca têm sexo casual. 19% têm algumas vezes por ano, 2% mensalmente e 2% até gostariam, mas nunca conseguem.

Também é raro acontecer traição, embora Utrecht seja a cidade com o maior número de puladores de cerca, segundo a pesquisa da NL. 16% declararam trair quando saem à noite, contra 15% em Haia, 13% em Groningen, 10% em Amsterdã e apenas 4% em Roterdã. Super santos esses holandeses, não?

Outros números interessantes da pesquisa sobre a vida noturna na Holanda:

Aonde eles vão (em Utrecht)?

Café* ————- 68%
Casa Noturna — 54%
Danscafé** —— 33%
Outros ———– 29%

*Para brasileiros, seria o equivalente a bar.
** Bar onde se é possível dançar depois da meia-noite.

Quanto eles gastam por saída?

Roterdã —— € 43
Amsterdã —- € 42
Eindhoven —- € 38
Utrecht —— € 32

Quantos eles bebem?

Nada ———- 1%
1-5 copos —– 41%
6-10 copos — 41%
11-15 copos — 14%
> 15 copos —- 3%

Uso de drogas

Amsterdã —- 48%
Groningen — 40%
Utrecht ——- 36%
Haia ———- 33%
Roterdã —— 26%

Drogas favoritas na noite de Utrecht

1º – Ecstasy
2º – Maconha
3º – Cocaína
4º – Speed
5º – Outros

Fonte: Revista NL30 www.nl30.nl (em holandês)

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Não dá para ganhar sempre

Precisei sair do Brasil para reaprender a gostar de Copa do Mundo. A última vez em que a seleção canarinho me empolgou foi no longínquo ano de 1994, quando eu tinha 12 anos e uma moeda de 50 centavos do recém criado Plano Real rendia um monte de guloseimas na mercearia do meu bairro. Desde então eu mal assisti a qualquer outro jogo seja lá de que competição fosse.

Mas desde que vim morar na Holanda, há pouco mais de dois anos, paguei língua e passei a gostar mais do Brasil. Adquiri esse patriotismo besta que eu vivia criticando. Mas ser o melhor do mundo em algo que todos admiram reforçou a minha cambaleante auto-estima de imigrante.

Até comprei uma camiseta amarela com um cristo redentor em verde, coisa que nunca fiz quando morava no Brasil. Comecei a usá-la mesmo antes de a primeira bola rolar na África do Sul. Sofrendo, assisti sozinha em casa ao jogo contra Portugal e me juntei com uns amigos brasileiros e americanos para ver a partida contra o Chile num pub. Gritei a plenos pulmões e curti com a cara dos holandeses, que torciam para o Chile por puro medo de ter que encarar o Brasil.

Antes disso eu, que não sou ingrata com a terra que me acolheu, vibrei com a Holanda em todas as vitórias deles na primeira fase da competição. Até porque meu namorado é holandês e torcer junto com ele foi muito bacana. Mas quando ficamos sabendo que as quartas de final seriam entre Brasil e Holanda, a escolha de cada um foi bem obviamente patriótica.

O coração apertou de saber que tinha que ser um dos dois. E por um momento eu tive a ilusão de que não importava, pois a festa estava garantida, de um lado ou de outro. Mas que se dane, sou brasileira. No final eu quis somente a vitória do meu País. O destino cuidou que eu e ele não tivéssemos que assistir ao embate juntos. Ele só poderia ver o jogo no trabalho. Eu estaria cobrindo a partida de um coffee shop em Amsterdã.

No dia em que o Brasil ganhou do Chile, provoquei meus amigos holandeses postando um comentário no Facebook “antecipando” uma derrota da Holanda. Numa reação profética, minha amiga Jantine Buren respondeu em holandês algo que se traduziria como “Coragem demais termina em queda”.

Mas se nem eles pensavam que iam ganhar de nós porque eu seria diferente? Realmente acreditei que o Brasil sairia vencedor. E foi quase inacreditável ver a nossa seleção perder. Fiquei tão chocada que decidi precipitadamente que ia torcer contra a Holanda.

“Tomara que cheguem na final junto com a Alemanha e percam como em 1974”, foi meu primeiro pensamento, relembrando a copa em que a Holanda eliminou o Brasil, fez a melhor campanha do Mundial, mas acabou perdendo para o arquirrival. E enquanto eu mentalmente preparava um vudu contra o time holandês, as mensagens de sincero consolo começaram a pipocar no meu celular.

A primeira foi do namorado. “Que pena!”. Depois, em casa, ele me deu um beijinho dizendo “me desculpe porque ganhamos”. A sogra, que está de férias na Itália, me escreveu de lá dizendo que sentia muito pela derrota do meu Brasil e elogiou as habilidades do nosso time.

Irônica só uma outra amiga, a Neeltje, que deixou um recado na secretária eletrônica do celular. “Eu estava trabalhando e não pude assistir ao jogo, mas claro que fiquei sabendo do resultado. Bom, só queria falar com você, porque, porque… isso não deixa de ser engraçado”, disse ela em meio a risadinhas, para no final me consolar: “Fique bem, foi só um jogo…”

Verdade. Mas eu estava mal-humorada. Muito. Pela primeira vez depois de uma partida de futebol. Na volta para casa, na confusão que se torna a Estação Central de Amsterdã a cada dia de grande evento, vi que o trem para Utrecht estava para sair. O apito tocou, anunciando que as portas iam se fechar.

Com o sinal, um grupo de holandeses fantasiados de laranja resolveu correr para não perder aquela viagem. E eu decidi arriscar o mesmo. Eles entraram. Eu, que estava logo atrás alcancei o último dos vagões no exato momento em que as portas se fecharam. Fiquei ali gritando “não, não, não” em holandês. Igualzinho a quando vi aquele segundo gol da Holanda. É… Não dá para ganhar sempre.

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